Sonhos Lúcidos – 9

Creio que este tenha sido o mais consciente de todos os sonhos já relatados.

Consciente porque eu era o mestre absoluto dos meus sentidos e do meu universo.

Apareci numa sala transparente, eu parecia ser a fonte de toda a luz, era visível que o cubículo de vidro, vazio, flutuava em meio ao nada.

Então comecei a trabalhar.

Primeiramente desmontei as paredes, cada uma delimitaria uma importância, um domínio desta minha nova terra.

A parte inferior seria o mar, antes uma faixa de magma incandescente bem generosa. Convidei-me a nadar nesse magma, era um calor aconchegante e restaurador. Um cobertor de pedras, dezenas de cristais, toneladas de joias brutas fizeram o solo mais brilhante que já vi. Fiquei pensando na cor da água. Escolhi verde, que fluiu e lambeu toda a superfície, banhando e preparando o início do que culminaria em vida.

A parte superior seria o universo. Vi a chapa espessa de vidro derretendo a medida que esticava-se, improvisei alguns movimentos, era o maestro de minha própria orquestra. Escolhi mais uma vez camadas. A primeira seria de matéria negra profunda e silenciosa, seria a energia mais sombria e enigmática. Um vórtex invisível em meio ao nada – toda a massa poderia estar lá, e continuaria assim. Agora uma película de estrelas e nebulosas distantes, fantasiar galáxias e fontes inesgotáveis de energia. Quase terminando, pintei o firmamento com quatro estrelas colossais, cada uma portava uma cor que representava uma força fundamental da natureza. Várias luas para vários eclipses diários. E enfim o céu. Subverti a lei e coloquei o céu em prata. Prata e dourado, mas o reflexo não feria a visão, o aspecto predominante era de leveza, a leveza pertinente a todo bom céu.

Agora que o teto e o piso estavam prontos, resolvi recorrer as laterais.

Uma seria a lâmina das montanhas infinitas. A cordilheira que começaria no magma se encerrando somente em matéria negra. Assim, distribuí ventos e neve pelas terras. A vida começava a borbulhar. Morros pontudos, retos, mamilares e, por que não? De formas propositais – o morro onda, o morro cabeça de cavalo e talvez o meu preferido, o morro de luz – exato, limitar-se o estado físico não é característica daqui.

A outra – não havia direito ou esquerdo, havia vontade – seria a superfície das praias. Praias que entravam e saíam das montanhas, praias planas que poderiam dar acesso a qualquer lugar daqui. Praias de todos os elementos, de areia, pedras, fogo e plenitude. Serviriam para descansar olhares com formas simples e fluidas.

Estava quase tudo pronto.

Usei o poder das duas faces restantes para criar vida.

Plantas, as mais incríveis e que não eram só verdes ou fixas, as vidas se confundiam e misturavam-se conforme meu olhar. Não tive preocupação ou receio. Tudo vivia e sentia aqui. Tudo era ser.

Eu poderia dizer que havia esquecido que estava sonhando – o que é verdade. Fui lembrar-me disto agora, na ausência dela.

Acabou que na tentativa de recriá-la por aqui, a complexidade da obra superou qualquer maravilha do meu mundo.

Tudo

Comprimiu

E

Expandiu

Sem o meu controle.

Acordei no meio do big-bang.

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