Sonhos Lúcidos – 14

Outro sonho aleatório.

O início foi padrão, estava caindo, como de praxe. Caí com tudo em fundo branco, um branco meio cegante, asfixiante, constante.

Atingi uma almofada, era uma película, não, era uma trama de algo fibroso, látex? Não sei.

Parecia a parte de cima de um tambor gigante.

Notei pela costura e madeira nas bordas. Tudo bem, e agora?

Uma tora gigante, caía, em mim?

Esquivei, um pulo.

Estava determinada a me acertar, conseguiria? Fiquei fugindo. Percebi que o colosso de madeira seguia um ritmo.

Resolvi esperar uma pancada, desviei pouco antes, pulei alto. Era uma bateria auto-tocando. Logo apareceram outros instrumentos.

Cansei, meu fôlego não aguentaria mais.

Ringo foi um matador de sangue frio, ao menos tentou ser, acordei antes!

Fluxo 43

Os olhos estavam sincronizados. Talvez pela última circunstância. A ocasião da sintonia entre olhares, o mar e a leveza que prendiam um ser ao outro, a compreensão completa da alma alheia, por alguns segundos. Como promessa futura? O recortar de erros do passado para ignorar e pendurar na parede do histórico de duas almas, o adorar a própria traição, de si, da essência, da casualidade, os olhos ainda se colavam, não precisariam pensar em mais variáveis, a deliciosa planificação da vida, o que ligava então era o desejo de simplificar? De cansar da loucura dos possíveis rumos que os quem sabe impunham, impostavam, encostavam, desmoronaram, lágrimas? Os olhos perderam o elo. Por um momento as calculadoras, algoritmos e obrigações foram mais fortes, um rolo compresso inevitável sobre a união, mesmo que dolorido, dessa vez não era saboroso, espremia o olhar dos dois, comprimindo, ordenhando mais água salgada. Daria certo se não existisse passado ou futuro, entretanto, o talvez que mata, salva, salva a valer, o presente, e só. Os olhos por fim, eram um redemoinho eterno e volátil.

Bifurcação

A pressão dentro do elevador estava, pela primeira vez, incomodando os ouvidos, seria um aquecimento?

– Mereço um aumento, pois fui um ótimo funcionário durante toda minha vida e…

O discurso no espelho foi severamente interrompido pela abertura das portas e olhar de estranhamento de uma senhora.

A cabeça baixa mirando os sapatos dirigiu-se até a porta.

– Bom dia, chefinho.

Depois da demissão, o que restou foi ver a física da sua gravata como uma barbatana nos céus e chão da metrópole.

– Livre.

Pegaram no chão o que um dia foi.

A Molécula do Engarrafamento

… Foi descoberta!

É concomitante com mau-planejamento, mau-humor, mau-salário, mau-estado-físico, mais umas concomitâncias aí.

– VAI BUZINAR PRA MÃE!

A mãe estava longe, mas era um dos sujeitos mais requisitados em frases, sinal da presença da molécula. Curiosamente não a prendiam em potes, mas era muito frequente em situações de aprisionamento – a cadeia -, dos condenados, das redes de fast-food, da alimentar social, o ar era rarefeito, não resistia a quantias puras de molécula com referência de frasco.

O comentário mais recente é, que, nas cidades de interior o povo não sofre com tal por ter a “crendice” profilática de prender sacis em garrafa. Será o saci molecular?

Ou só uma justificativa-escudo?

Não, isso quem diz é o povo da conspiração! AHAHA