Sonhos Lúcidos – 12

O sonho era muito instável.

A impressão inicial era de que, lá, assumi a forma de um ancião. Tanta sabedoria, zero.

Não havia delimitação material.

Meu corpo vibrava, como distorcido de uma frequência, como chiados diferentes para cada região anatômica.

Sem percepção do tempo a angústia dilacerou.

Muito.

Doía de maneira real.

Em ponte de se exteriorizar. As frequências de oscilação sumiram, fui desfiando, fios do que eu fui. Sem cor.

Sem vida.

Acordei sem querer pensar em significado.

Post 300

(Post do autor? Sim. Conto? Também).

Não foram uma, duas, ou três vezes que pensei no fim.

Cada post, cada conto, cada pílula, cada byte, cada um deles foi o fim de algo.

Com o poder do que se encerra, do que consome, talvez como principal motivador para tudo que produzo. Ao que parece, o que remete a morte atrai a vida.

Então que tal seja um memorando. Uma pequena morte.

Sim, eu sei que a maioria dos leitores (Será que são mais de 10?) está esperando novos livros. Terão seu momento.

No mais agradeço por estar finalizando e vivendo todos os dias.

 

E novos fins virão.

Elucidação

Novamente os olhos carregados.

Aquela dupla de bolas de gude que tanto amei e aprendi a temer.

Eles eram Deus. E Deus chorava.

Entretanto as lágrimas eram brilhantes, calmas.

Não era felicidade, ou depressão, sequer conformidade.

Eram de elucidação.

 

Um abraço muito calmo, senti meu ombro úmido, contudo as leis estavam em seu lugar. A linearidade fora restabelecida.

Era o momento do adeus.

Nada dissemos. Deixar em aberto era deixar eterno.

Ao menos neste caso, ao menos para os sorrisos.

Subjetividade Azul e Branca

—Aquele inbox foi uma direta pra quem mesmo?

—E agora importa?

—Por que não importaria?

—Já acertou mais da metade da sua lista de amigas mesmo.

—Não cometa exageros.

—Exagero? Pelo menos dez delas vieram me falar como tinham compreendido mal você por tanto tempo.

—Quer dizer que eu consegui pretendentes?

—A assassinas, só se for, todas falavam que você não era “este tipo” de homem.

—Que tipo?

—Acho melhor eu nem continuar ahaha.

—Mas foi só uma frase, nem curtiram tanto assim.

—Realmente, nem eu curti.

—Grande amigo você, hein.

—O quê? E prejudicar minhas já poucas chances?

—Até.

—Até.

 

E na tela do computador os pixels formavam o post:

“Vocês já sabem a verdade sobre chaves e fechaduras.”

Cadeia

O passarinho caiu morto no chão, suas asinhas tingidas de sangue e seus olhinhos já perdendo o brilho da vida.

O menino olhou absorto para o estilingue.

—O que eu fiz?

Pegou o corpo do pobre animal, estava molinho, ainda quente.

Não adiantaria nada.

Era seu primeiro assassinato.

Saiu correndo com a arma em uma mão e o passarinho na outra, seu rastro ia compondo três trilhos; as pegadas, fios de pena com gotas de sangue e, por fim, um filete de água salgada bem tímido.

Sentou na sombra de outra árvore.

Viu um ninho com filhotes, bebês piavam sozinhos com fome, abriu a boca do corpo na sua mão esquerda. Havia alguns insetos triturados.

—Sou um monstro!

Arremessou o estilingue para o alto e esperou o tempo passar, recolhido em seus joelhos.

Formigas começaram a atacar os restos mortais.

É isso.

—Já não posso fazer nada por você, só por mim e pelo futuro.

As formigas sempre virão ao fim.