Era uma noite de final de reality show, algo completamente irrelevante para uma parcela da população, não fosse o fato de ser um evento mundial e o prêmio ser um país.
Um país inteiro.
As regras eram bastante simples, bastava conviver e sair aos poucos, o público escolhia o mais carismático e assim iam saindo, um por um, até sobrar os cinco finalistas.
Quatro homens e uma menina de dezessete anos, todos sabiam que ela se consagraria vencedora.
Era a oportunidade perfeita.
O clímax da televisão mundial seria atingido em 10 minutos, todos os participantes estavam acomodados em poltronas, esperando o resultado, espremendo-se em ansiedade com muitas línguas acompanhando do lado de fora.
A garota teve um rompante.
Saiu correndo, gritando, até a cozinha, os quatro rapazes a seguiram, tentando ajudar em vão, era histeria? O primeiro a ajudar teve o pescoço rasgado com a faca usada pra fazer o churrasco do almoço, o segundo com o susto caiu para trás, batendo a cabeça na quina da bancada de forma violenta e fatal, o terceiro foi para cima da menina, tentando imobilizá-la, sem sucesso, seu coração foi perfurado em um único golpe. O quarto arrancou a faca da mão da menina e incrivelmente cravou em si mesmo, enquanto ela restou sozinha.
A transmissão cessou depois disso.
As notícias que explodiram só diziam que a jovem havia sumido.
_E por que ele faria isso?
_Chamar atenção?
_Isso não é típico dele…
_Talvez queira passar um recado!
_Para quem?
_Talvez não seja ele, pode ser outro caso, não é porque foi aparentemente inexplicável que tem que ser ele!
_Não seja idiota, claro que foi O suspeito!
_Ele virou justificativa para tudo que aparece de inusitado agora? Estamos sofrendo uma crise de preguiça intelectual por aqui, pode assumir esse caso sozinho, eu vou embora.
_Não.
A arma apontada dizia por si só – a confidencialidade daquele caso só poderia ser desmantelada com o fim, ou dele, ou dos agentes.
_Pois bem, voltando a tese, por que ele faria isso?
_Ele com certeza deve imaginar que o investigam, talvez seja um jogo para mostrar quem tem mais poder.
_Entendo, pensando assim, creio que ele espere que nós contra-ataquemos, não, ele quer falar conosco, quer encontrar-nos.
_Ele quer uma emboscada. Pra acabar com o jogo.
_E como podemos confirmar isso?
_Temos que esperar, se for de fato o que estamos pensando ele fará uma pressão cada vez maior, não irá poupar ninguém.
_NÃO PODEMOS ESPERAR ENQUANTO VIDAS SÃO SACRIFICADAS INUTILMENTE!
_Mas não estaríamos entrando no jogo dele?
_Não temos opção. O jogo pode ser dele, mas a jogada ainda é nossa, é questão de reverter.
A pressão no ambiente era crescente, o ar parecia uma coletânea de lâminas, respirar ardia.
_Então, quando e como faremos? Sei que acima de tudo devemos ser rápidos, cada segundo…
_Calma. As emoções não podem fluir desta maneira.
_Que se dane, eu montaria uma armadilha para ele aqui mesmo no QG.
_Quem garante que ele virá em pessoa?
_É simples. Convoquemos indigentes sem nome.
_Como assim?
_Precisamos de todas as pessoas com as maiores desgraças de vida que conhecemos, pessoas que não existam em cartório.
_Eles servirão de escudo humano?
_Não, apenas faça.
_O que você está pensando?
E em tal situação os agentes já não eram mais um pensamento organizado, o time separou-se em quem era a favor da ideia ousada e quem era contra.
No fim todos concordaram. Parecia absurdo, mas a situação necessitava de pensamentos absurdos.
O anúncio foi público, secreto seria apenas o que aconteceria lá dentro, toda forma de imprensa fora avisada.
Os indigentes experimentaram alguns dias de vida nova, alguns não aguentaram a nova realidade, tão acostumados com a escória existencial, preferiram voltar, a maioria sabia que corria risco de morte, estar ali nunca seria de graça, porém estavam lá, esperando algo ou alguém.
16h e 32min.
Cai o primeiro indigente.
E como dominós todos vão desabando.
A ordem, a ordem das mortes escreveu algo, uma mensagem:
“QUERO QUE VOCÊS APAREÇAM NO TOPO DO CRISTO REDENTOR, LÁ ESTAREI”
A causa mortis dos indivíduos era clara e denunciava O suspeito: Parada cardiorrespiratória.
_Ele tem sérias tendências megalomaníacas. Não matava inocentes, apenas criminosos cruéis, depois a curva cresceu para todos os tipos de crime, agora qualquer um.
_E assim descobriremos quem ele é.
_E se for uma emboscada?
_Eu vou sozinho.
A equipe negou com veemência.
_Sou eu quem ele quer. A briga é comigo.
?
_Somos irmãos, tenho certeza que é ele.
O sol brilhava de uma maneira fúnebre. Se é que isso pode acontecer. E lá estava a silhueta, no polegar da estátua gigante.
Não havia ninguém, somente um pedaço de papel colado no concreto, escrituras.
“Querido irmão.
Esconder-se com tal pseudônimo, “L”, que ideia mais infantil de sua parte. Tudo bem, matar as pseudo-celebridades daquele programa não foi uma postura muito madura de minha parte, existem maneiras mais inteligentes de chamar atenção, o ato poderia parecer inexplicado.
Não foi.
Você deve ter suspeitado do acordo que eu fiz com os donos da emissora, em verdade, deve até mesmo saber que eu sou o assassino, o grande KIRA.
Digo mais, deve ter descoberto até nosso parentesco, nosso óbvio parentesco. Pensei em comparar-nos com Caim e Abel, mas não há lado bom ou mau por aqui.
Pois bem, os indigentes eu matei com meus olhos de Shinigami, mesmo que eles não fossem registrados, a alma deles denunciava um nome maior, um nome antigo, algo que só os deuses da morte dominariam e a tal artifício você não teve acesso.
Peço desculpas a quem entrou no meu caminho, porque no fim eu só queria dizer uma coisa:
GANHEI!
Ah, já ia me esquecendo:
– L Lawliet
Depois de ler esta página, irá amassar o papel e pular da estátua em um ato suicida.”
E na mente do investigador algumas poucas palavra ainda giravam conscientemente, mesmo sabendo que entraria no torpor proporcionado pelo caderno em alguns instantes:
“Não, irmão.
O derrotado foi você.
Nunca precise de Death Note para ganhar, sempre fui o melhor – e tal verdade ficará encravada em seu âmago eternamente, uma vez que minha vitória será eternizada com minha morte. Seu plano de captura está ocorrendo no QG e a ordem de execução para todos os suspeitos será realizada sem o menor problema.
EU GANHEI!”
O corpo despencando da estátua confirmou a ordem do pedaço de papel.
E a execução de Light também aconteceu, Light que morreu com vários tiros, remoendo a derrota definitiva.
“MALDITAS EMOÇÕES!”
Inspiração: Death Note (Do mangá originalmente escrito por Tsugumi Ōba e ilustrado por Takeshi Obata).