Ocupar a posição de chefe da cavalaria 2 é o sonho de todo habitante, cresci com histórias, lendo, ouvindo canções, vendo filmes e outras centenas de mídias sobre como é gratificante servir para a manutenção do bem social, é solitário viver na última comunidade humana, porém todos sabemos que quem sai daqui morre asfixiado pelo enxofre bruto ou é devorado pelas dezenas de mutações de animais que surgiram. Como qualquer habitante, também cresci sabendo o quão corajosos são os soldados que residem nos campos subterrâneos que nos enviam alimento, enxofre para produzir Platrium e energia elétrica, nunca vi ou soube de alguém que foi para lá, mas eles existem e estamos vivos graças à eles.
Penso se a civilização humana era mais harmoniosa que a nossa quando não precisava de tantos artifícios e não possuía tanta tecnologia para manter sua sobrevivência, acho que não, antigamente o nível intelectual era muito baixo, foi questão de seleção mesmo, que nosso povo, com nossa cultura arrojada e evoluída – desde língua até etiqueta – se sobressaísse em meio ao caos. Sabemos que alguns séculos foram o que definiram o futuro da espécie humana, que apesar de todos esforços de conciliação da nossa nação que negociava sem parar, a fúria dos povos inferiores falou mais alto, eles se destruíram e nosso povo fez o que sempre fez melhor: Ser.
Não há o que reclamar de viver na nossa constelação, sabemos que é apenas uma redoma de proporções monstruosas, mas todos chamamos de constelação, o índice de criminalidade é zero, nossa educação é exemplar e todos temos bom senso dos picos populacionais, em que gerações reduzem o crescimento vegetativo e outras gerações aumentam. É realmente uma pena ter perdido todo o tesouro histórico cultural da humanidade, porém não podíamos zelar tudo e todos que existiam, temos várias bibliotecas arrojadas em que livros eletrônicos de Platrium exibem em seus potentes mostradores milhões de pixels de Platrium. Dizem que até a nossa humanidade se instalar usavam algo como papel, que vinha de seres vivos chamados de.. árvores, não entendo direito isso, como um ser vivo pode existir sem andar? E não consigo imaginar alguém cortando o braço pra fazer uma espécie de armazenador de registros e cultura.
Todo alimento que precisamos vem pronto, tubulações instaladas em edifícios trazem tudo, comer é simples e as calorias por pessoas são reguladas por chips que, pelo que aprendemos, surgiram numa simbiose, como as mitocôndrias, e estão conosco, contando calorias e avisando quando o corpo não precisa de mais. Química é a nossa ciência mais avançada, séries de elementos derivados de Platrium e alguns que descobrimos por aqui, porém não usamos mais, o elemento mais intrigante é o enxofre, além de ser o mais estudado – para cada vez ficar mais eficiente na produção de Platrium – é o mais distinto de todos. Respiramos enxofre fino e refinado, vivemos do enxofre, ele é tudo para nós e mesmo assim continua tão difícil de ser estudado.
Tenho uma família de novos filhos, todos estão estudando e aprendendo o quanto são privilegiados em viver no apogeu da civilazação humana. Eu mantenho meus estudos avançados sobre Platrium, quanto mais você progride de cargo na cavalaria, mais tem que aprender sobre Platrium e o que quase ninguém sabe, apenas nós, é que o Platrium mais nobre é usado no chão, imaginem vocês, no chão da constelação, o Platrium nesta liga é intransponível e irreversível, independente de aplicar enxofre, ou não. Diziam que nossos cargos iriam falir, afinal, para que força repressiva em um lugar em que todos possuem a mais profunda compreensão dos fatos e são tão evoluídos? Por isso ao passar de gerações – quem pegou esse processo de transição acontecendo sofreu – as tropas e os cientistas fundiram cargos de modo que apenas usamos a denominação “soldado” para aquele que ocupa uma posição privilegiada quanto ao governo.
Governo esse que não existe propriamente, vivemos de modo comunitário e exemplar, o primeiro governante da nação, foi o único, ele definiu juntamente com os ministros iniciais como deveriam ser as regras de sobrevivência e continuação da espécie, em acordo, todos aceitaram e reformularam os pontos que precisavam ser modificados, assim, a civilização nascia com um forte programa educacional, o bom senso vigora em todos nós, desde o controle de bebês geneticamente defeituosos até a eliminação de sujeitos que não entendam o que significa pertencer ao ápice. Tudo muito normal, tudo muito aceito.
Até ontem, tudo isso era como eu escrevi.
Pessoas da mais alta cúpula social nos chamaram hoje – eu e mais três soldados – para uma missão extraordiária, saímos da cúpula para uma pequena central instalada próximo ao solo, não fazia ideia de que existiam instalações dos habitantes com exceção da cúpula e das centrais subterrâneas, apenas fomos e seguimos como ordenaram. Disseram que era uma missão confidencial, e o bom senso iria vigorar na situação, no caminho disseram que fomos escolhidos pela nossa habilidade em manter a ordem.
Atravessamos pavilhões através de elevadores, ainda era tudo de Platrium.
Porém o tal forte não existia. Estávamos fora da cúpula, no solo.
Respirando enxofre bruto e no meio de humanos.
Humanos que não eram habitantes. O choque que nós soldados sofremos foi forte demais.
Um dos soldados começou a ter espamos contínuos, e um dos integrantes da alta cúpula o eliminou apertando um bip.
_Soldados, apenas recolham os corpos que apontarmos e sigam-nos.
_Mas senhor, poderia antes explicar o que está acontece..
Outro bip. Outra eliminação.
E sobrou o trabalho frio para mim e outro soldado.
Levamos o corpos para próximo de uma caverna.
O superior vociferou rápido:
_Não questionem, caso contrário o bip irá ativar a função terminal do chip de vocês, e bem, vocês sabem o fim que terão. Queremos que tentem reviver o máximo de corpos possíveis. E não deixe-os mover uma polegada sequer sem que antes vocês tenham o controle, aqui, sua armas de Platrium, basta apontar para o cérebro deles para que estes entrem em colapso e parem de funcionar. Vou subir para trazer um arsenal de isolamento da área para que possamos executar o plano de escravização e utilização deles.
E enquanto eu tentava reanimar os corpos com socos, chutes, choques, minha cabeça explodia com dezenas de informações, como poderia haver outros humanos? De onde eles vieram? Será que trabalham no subterrâneo? Então porque essas vestimentas rudes e primitivas e nenhum platrium? O primeiro a ser acordado foi um que portava utensílios e mochila de Platrium, o único, ele ficou imóvel e trêmulo, de certo sabia ou previa que qualquer reação poderia significar o fim. Entretanto o segundo a reanimar apresentou uma reação abrupta e disparou a falar:
_Vocês devem parar com isso! Não tem o direito de reconstruirem tudo ao molde de vocês! Ainda existem mais humanos além de mim! Pessoas com família inteiras!
E ao disparar tais informações, o que já estava imóvel se levantou, talvez para avisar o amigo dele do perigo iminente no discurso.
Era tarde.
O soldado que estava realizando a grotesca operação assassinou o humano, e tentou executar o outro também, porém não conseguiu por um motivo.
Eu o matei. Ceifei a vida de um semelhante.
_Não se mova! Pelo visto você conhecia esses humanos que eu nunca vi, sabe a história, conte-me a sua verdade e então você pode permanecer vivo.
E com essa fala eu ativei o gatilho argumentativo do estranho, uma avalanche arrebatadora de informações inundou minha mente.
Eu não acredito.
Minha civilização não era a única, fomos todos enganados.